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sexta-feira, 30 de julho de 2010

DEAMBULO DE QUARTO EM QUARTO

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Deambulo de quarto em quarto
De sala em sala
Abafado entre estas paredes

Tem dias em que me sinto assim
Cansado e farto
Preso e fechado numa mala
Embrulhado no meio das minhas redes

Já é fim de tarde
Não se passa nada
Nunca se passa nada
À minha volta tudo arde
E o fogo que sinto em mim
Queima, magoa, e não se apaga


quarta-feira, 28 de julho de 2010

QUE FALTA ME FAZ O TEU REGAÇO

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Que falta me faz o teu regaço

Tem dias em que abafo
Preso nestas paredes
De pedra

Dias compridos onde
Deambulo entre palavras

O meu pensamento arde
Por entre as letras certas
Presas nas redes
Dos livros lidos ao fim da tarde

Amanhece sempre cedo
O dia em que me maço
E me encho de medo
De me entregar ao cansaço

Meu Deus,
Que falta me faz o teu regaço



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segunda-feira, 26 de julho de 2010

JÁ LÁ NÃO ESTÃO


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Já lá não estão
As pombas e as gaivotas
Parecendo adorar o sol.
Estou eu aqui
Parado, olhando as tropas
Parado, a pescar palavras mortas
Sem cana nem anzol

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sábado, 24 de julho de 2010

DE TANTO OLHAR


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De tanto olhar
Tanto olhar
Olhos perdidos
Na lonjura das águas
Vejo-me nos tempos idos
E recordo as minhas mágoas

De tanto olhar
Tanto olhar

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quinta-feira, 22 de julho de 2010

PERCO-ME A OLHAR

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Perco-me a olhar
A olhar
É grande e belo,
O mar.
Passa longe um vapor
Passa
Quem sabe que segredos
Transporta.
Quanto de ódio
Quanto de amor

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terça-feira, 20 de julho de 2010

PAI


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Vida fora tu correste
Passo lento, certo, seguro
Nunca foste uma alma errante
Eras fácil de encontrar
E agora que já morreste
De ti digo e asseguro
Nem todo o bom mareante
Se encontra no alto mar
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Agora,

domingo, 18 de julho de 2010

O SOL BRILHA NAS ÁGUAS MATINAIS

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O sol brilha nas águas matinais
À moldura da tua nudez
Encosto sereno, o meu ouvido
Ouço as rosas brancas, o orvalho
Os teus sinais
Lamentos, espadas, rituais
Sinto teu cheiro, toco teu dorso
Fico perdido

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

VEM POR AQUI

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Vem por aqui
Desenhar meus pés
E derrubar obstáculos
.
Vem para aqui
Apreciar as marés
E curar meus cansaços
.
Vem amar o longe
A minha loucura
A minha ironia
E o mundo a que subi
.
Faz de mim um monge
Deseja-me
 Como à fruta madura
 .
Enche-me de amor
De sabedoria
Vem comigo, não vás por aí

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

MESMO A MEU LADO

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Mesmo a meu lado
Um grito mudo dobra as esquinas
E uma doce melodia sai da garganta
Do teu corpo arqueado
.
E toda tu és minha
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Abandonada naquela manta
És orvalho, és pomar
Amora silvestre, música, telhado
.
Como é bom viver para te amar
Mesmo que só por um bocado

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

ESPERANÇA

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(por fim)
Corro atrás do vento
E da palavra
Por um momento
A violeta olha para mim
Como para uma folha-ave
Que no ar tece uma trança
Não sabe qual meu intento
Nem que o vento é que é a ave
E a palavra a esperança

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terça-feira, 13 de julho de 2010

COM TERNURA

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Com ternura
Subo pelo flanco
Em direcção ao leito do rio.
Recolho o orvalho efémero
E provo a delícia súbita das romãs
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Com bravura
Escuto o teu breve pranto
E, subindo qual gaivota no vazio
Ou pelo teu torso magro e delicado
Trepo aos ramos mais altos das manhãs
 .
Com candura
Recolho-me no teu doce e suave encanto
Por lá ficando dias a fio
Colhendo framboesas no bosque amado
Regressando à juventude
E ao saber das minhas cãs
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NÃO TENHO PRINCÍPIO NEM FIM

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Não tenho princípio nem fim
Não principio nem acabo
.
Sou o rumor das pétalas a abrir
Sou o grito das cores berrantes
O vestígio de beijos a florir
A noite a cair em instantes
.
Sou o sangue a correr em mim
Sou vida e morte por um bocado
.
Sou o som da semente a nascer
Sou o que sou, de minha autoria
Volto amanhã se hoje morrer
Sou o rumor do nascer do dia
.
Não tenho princípio nem fim
Não principio nem acabo
Anseio por ser eterno,
Ao fim e ao cabo.
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

QUASE COM CUIDADO

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Quase com cuidado
Muito ao de leve
O silêncio foi quebrado.
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Era quase nada!
Como se fora
Do cair da neve
O rumor que se adivinhava.
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Ou talvez da leve brisa
De tão leve
Mal se sente
.
Ou o mexer dos meus olhos
Ou o germinar da semente
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NO ALTO DESTE MORRO


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No alto deste morro
Olhando o sol surgir
Escuto atentamente o silêncio
.
São tão calmos
Os breves momentos
Da natureza a sorrir
.
A brisa não se ouve
Nem o ralo
Nem o grilo
Nem o pensamento a fugir
.
Tão-somente o breve rumor
De milhares de pétalas a abrir
.