Seguidores

domingo, 26 de junho de 2011

POEMA DE ADÃO CRUZ


.
ADÃO CRUZ ILUSTROU COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
.


MÃOS DE HOJE QUE FORAM DE SEMPRE


Na noite que já não é noite de madrugadas perpassa em doce silêncio por entre os dedos dormentes uma brisa dolente esquecendo as mãos na paz adormecida.

Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio perpassa agora em suave melancolia o magro regato da secura da vida arrastando em seu leito rugoso a triste canção de um tempo sem cor nem movimento.

O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra no impiedoso vazio das mãos cheias de nada.

Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas no tempo em que o sol sorria entre os sonhos e as mãos cantavam a força da vida com ondas do mar por entre os dedos frementes.

No penoso abrir e fechar de mãos deste plangente gesto do fim do dia feito canção de tão gélido silêncio apenas a saudade se aninha em negro fundo para morrer sozinha.


                                                                                              Adão Cruz

(poema inédito escrito especialmente para esta fotografia)
.

sábado, 25 de junho de 2011

POEMA DE JOSEP ANTON VIDAL

JOSEP ANTON VIDAL ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
 

.
PLANA LA BOIRA ALS CAMPS



Plana la boira als camps,
i els perfils, els volums,
els colors i les formes
són ombres irreals,
presència intuïda
que cap sentit dibuixa.
Només el pensament els dóna nom.
I l'arbre, el tronc, les fulles i
les pedres,
coneguts,
s'alcen fets mot, presència
i forma sense cos,
fets només arbre i tronc, fets fulla i pedra,
deslliurats dels sentits, sense
atributs.
Com tu i com jo, dibuixos
impossibles,
idea i ombra, un concepte
imprecís...
I tanmateix tan certs com tu, com jo.

Josep Anton Vidal

(este lindíssimo poema, escrito em Catalão, terá brevemente uma edição traduzida)

.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

POEMA DE SÍLVIO CASTRO


SÍLVIO CASTRO ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS

.
. .
O TATO E AS MÃOS                                                                                                            

Suspensas e ensimesmadas
as mãos são pássaros vagantes
sem asas que voam entre
tatilidade e o quase nada

Os pássaros agora mãos
não sabem se os seres
táteis já agora são
não asas, puro chão. 

As mãos agarram-se ao chão
tatilidade certa, mas sem garra
que essas asas mais que suas  são
dos pássaros errantes.


Como perdidas asas no espaço
as duas mãos encontram o tátil
mais que chão,
abraçando-se em duas tatalidades,
não  vôos, somente mãos.

Sílvio Castro  

.

POEMA DE MANUEL SIMÕES

.

MANUEL SIMÕES ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
.

ENTARDECER

  
1
O entardecer desorganiza
o nosso mundo,
exalta o canto
doloroso das aves

como apelo que flutua
no verde das árvores
de súbito acolhendo
os estranhos, espúrios
frutos da noite.
   
2
Já não tarda o entardecer:
as aves pressentem o lento
progredir das sombras, o vento
ausente que as sufoca, o único
irrepetível surpreender
das trevas.

Manuel Simões

(De "Micromundos",Lisboa, Colibri, 2005).

.

terça-feira, 21 de junho de 2011

POEMA DE CARLOS LOURES


.
CARLOS LOURES ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
.
.

.
ATLAS ILUMINADO



.................................................
Um rosto velho, cansado
é manto de nevoeiro
que cobre a deriva louca
do veleiro que percorreu
o rio da nascente à foz
e chega a um mar de espanto
grito morto na garganta
- boca que perdeu a voz
que a água do rio venceu
na passagem destruída
sobre a ponte inexistente
muro entre o sonho e a vida
que nos coube em sorte a nós
........................................................

Carlos Loures

(Fragmento do poema inédito "Atlas Iluminado")

.

POEMA DE ANTÓNIO SALES


.
ANTÓNIO SALES ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
.
 .
FUTURO



O futuro na minha infância

estava inocente de derrotas e sofrimentos,

simplesmente porque a minha infância

não podia profetizar o futuro.

Sendo futuro embora,

a infância brinca com alegria isenta de manhas,

tomando-o por aliado, amigo, companheiro, irmão.


António Sales

.

POEMA DE ADÃO CRUZ


.
ADÃO CRUZ ACEDEU EM ILUSTRAR COM UM POEMA UMA FOTOGRAFIA DE MINHA AUTORIA EM EXPOSIÇÃO NO "A CUP OF TEA" EM MATOSINHOS
.


NÃO HÁ POETA


Não há poeta para a réstia de sol de um rosto engelhado de
luz não há poeta para o poema da eternidade num só momento.

Não há poeta para a singeleza do pensamento feito suspiro de
terra seca num beijo de primeira chuva na melodia do sol-pôr dormindo num
estuário de rugas cavadas de longas madrugadas.

Não há poeta para a liberdade de criar sem algemas a
majestade de um só verso feito sorriso de cristal não há poeta para tão serena
harmonia da assilabada amargura do peso do tempo.

Não há poeta para a nudez da vida perdida para lá de um
rosto apagado de ilusões não há poeta para uma réstia de sol pousada nos olhos
do silêncio entre a vida e a morte.

Adão Cruz

.